Matthis Chiroux e Malalaï Joya, Common Dreams, 5.4.2009
tradução de Edu Montesanti
“Como me entristeço pela violência que meu Exércto tem praticado…”
Em 21 de abril de 2009, o sargento dos EUA, Matthis Chiroux, vai encarar processo em Saint Louis, Missouri [estado norte-americano], por publicamente recusar a lutar no Iraque no verão passado. Como muitos outros resistentes, Chiroux serviu ao Exército por muitos anos antes de chegar à conclusão que as guerras e a ocupação no Iraque e Afeganistão estava errada, e encorajou-se a falar abertamente. Desde o verão passado, ele tem desempenhado atividade chave na organização dos veteranos dos EUA, o Veteranos do Iraque contra a Guerra (IVAW, na sigla em inglês).
Malalaï Joya, 31, é a pessoa mais nova a se tornar membro do Parlamento afegão (uma das 68 mulheres eleitas aos 249 assentos na Assembléia Nacional denominada Wolesi Jirga, em 2005); após falar abertamente contra os fundamentalistas e antigos senhores da guerra no Parlamento, ela acabou suspensa. Ela foi uma das mil mulheres indicadas para o Prêmio Nobel da Paz em 2005, foi uma 250 das líderes do Fórum Econômico Mundial em 2007, e foi indicada para o Prêmio Sakharov pela Liberdade de Pensamento, pelo Parlamento Europeu. Em 2007, ela esteve em Berlim e falou na Comissão Parlamentar da Alemanha pelos Direitos Humanos. Ela lidera o grupo não-governamental Organização para Promoção das Habilidades das Mulheres Afegãs (OPAWC, na sigla em inglês) no leste do Afeganistão. Ela sobreviveu a quatro tentativas de assassinato e só pode trafegar pelo Afeganistão com segurança armada.
De 1º a 5 de abril, Chiroux juntou-se a ativistas pela paz na Alemanha e França, para falar abertamente contra a OTAN e a guerra e ocupação no Afeganistão. Se não for preso pelo Exército dos EUA em 21 de abril, ele se juntará aos ativistas europeus pela paz na Irlanda em 26 de abril, pela campanha deles contra o uso do artifício Shannon por parte do Exército dos EUA.
Em 4 de abril, em grande demonstração em Strasburgo, França, Chiroux planejou publicar desculpas à ativista pela paz afegã Malalai joya, por participar da ocupação do país dela; contudo, antes de poder fazer isso, a demonstração foi desmantelada pelos ataques da Polícia francesa. Ele pediu suas desculpas durante o Congresso da OTAN em Strasburgo, em 5 de abril. O que se segue é um transcrito da troca de idéia entre eles:
Desculpas do Sargento Matthis Chiroux à Líder Afegã Malalaï Joya
CHIROUX: Oi para todo mundo. Meu nome é Matthis, e eu ainda sou sargento do Exército dos EUA, felizmente não por muito tempo. E esta é Malalaï Joya, do Afeganistão. E em 2005, por pouco tempo, eu ajudei a ocupar o país de Malalaï, e isso foi errado. Foi um erro meu. Eu não deveria ter estado lá. Eu não deveria ter apoiado essa opressão ao povo dela. Hoje, ei quero olhar Malalaï nos olhos, e quero dizewr a você, Malalaï, o quanto eu me entristeço com a violência que meu Exército tem praticado contra seu povo, contra seu país. Eu quero pedir desculpas a você pelo papel que eu desempenhei nisso. Foi um erro, e eu mostrarei a você que meu país e o resto do mundo podem vir aser um lugar onde eles possam admitir seus erros, se desculpar, e oferecer algum tipo de reconciliação.
Eu não tenho muito o que dar, Malalaï, mas gostaria de oferecer-lhe este pequeno símbolo de minha reconciliação e nossa boa amizade, que foi desenvolvida aqui nesta confereência, e esta amizade seguirá adiante, e tomara que a amizade de Malalaï e a minha possam servir de modelo ao nosso povo em nossos países. Podemos forçar uma paz recusadno a odiarmo-nos e matarmo-nos uns aos outros… e eu quero dar a Malalaï isto: um broche de uma pomba, um símbolo internacional da paz. Eu gostaria de pre senteá-la com isto, Malalaï, e pedir… [aplausos] e pedir que você o aceite como lembrança de nossa reconciliação e nossa nova e duradoura amizade, e assim possamos, tomara, inspirar outros a fazer o mesmo.
Se os norte-americanos e outros soldados pudessem vir ao mesmo lugar, sabendo o que tem, sido feito de errado, e desculpar-se às pessoas pelo que eles têm feito de errado, e buscar amizade, daí nós teríamos paz e não importaria o que os governos fazem. [aplausos]
Joya: Estou sem palavras por tanto agradecimento – meu querido irmão. Eu não tenho nada para lhe dar a não ser o amor do meu povo. Dou-lho, e transmito seu amor a eles.
E quero dizer-lhe que é seu governo que deve se desculpar, antes de tudo, a grandes pessoas como você: eles estão enganando-os e usando-os para uma causa que não é boa; usam-no para uma guerra que só aumenta o sofrimento do meu povo. E é seu governo quem deve se desculpar ao povo afegão por invadir a terra deles e impor um governo mafioso dos senhores da guerra, e senhores da droga sobre o povo.
Não só ao povo afegão, mas também ao povo iraquiano pois eles ocuparam aquele país e os traíram, e guerrearã no Paquistão agora. E ogoverno dos EUA antes de tudo deve se desculpar às pessoas que querem paz e amor dentro dos próprios EUA, cujo governo tenta dar uma visão errada do povo afegão e comete crimes de guerra em nome do povo.
E ontem estive na exposição, e quis dar uma palavra em nome do meu povo aqui, para mostrar o erro da política do governo dos EUA, especialmente da OTAN – porque, infelizmente, esses governos também têm seguido a política devastadora dos EUA por sete anos até agora – a qual é uma piada de democracia. Por favor, tanto quanto você puder, levante sua voz contra a guerra mercantilista de seu governo, e também contra o que os EUA querem ocupar e ocupar… Por favor, levante sua voz contra a política errada da administração de Obama, que agora quer mandar mais tropas ao Afeganistão.e fazer acordo com o brutal Taliban, e outros terroristas para proveito de sua própria estratégia, a qual trará mais conflito e querra ao meu povo.
E neste momento de catástrofe nós precisamos de mais apoio moral e material, para as pessoas afegãs que sonham com democracia, as quais são a única alternativa para o futuro do Afeganistão: apenas elas são capazes de lutar contra o terrorismo e o fundamentalismo. O sofrido povo do Afeganistão, ninguém ouve sua voz – enquanto essas tropas estão matando nossas pessoas inocentes, em sua maioria mulheres e crianças, e por outro lado esses talibans e os terroristas da Aliança do Norte continuam seu fascismo sob as regras dos EUA / NATO. Assim, junte-se a suas irmãs e irmãos no Afeganistão, especialmente as pessoas que sonham com democracia lá, que não querem ocupação, nem Taliban, mas um Afeganistão independente, livre e democrático.
Eu tenho um pequeno presente também, ao querido Matthis, em nome do meu povo. Espero um dia ter um presente afegão para ele. Isto é de todos nós [aplausos enquanto ela dá-lhe o broche da pomba]
CHIROUX: Já encerrando, eu gostaria de dizer que encontrei aqui nessa Cúpula da OTAN. O legado desta cúpula não será a violência. Será a amizade recíproca que foi fromada aqui entre as tropas dos EUA e o povo afegão, que se recusam a lutar e se odiar uns aos outros.