Jake Towne, the Champion of the Constitution, Nolan Chart, 8.8.2008
tradução de Edu Montesanti
Você nunca ouviu falar em Malalaï Joya porque, como a maioria da população afegã, ela quer que os norte-americanos deixem o Afeganistão!
Malalaï Joya, corajosa mulher e deputada do Afeganistão, luta por justiça, direitos humanos e democracia. Ela luta contra os senhores da guerra e os talibans… e contra o governo norte-americano, a razão provável porque você nunca ouviu falar nada dela.
Malalaï Joya, representante eleita do Parlamento afegão desde a invasão norte-americana, é mais famosa por denunciar publicamente os senhores da guerra na convenção constituicional de 2003. Ela sobreveu a quatro tentativas de assassinato.
Ela fala em alto e bom tom em favor das mulheres de Farah, em um país e em uma época na qual elas têm pouca ou mesmo nenhuma voz.
Ela fala em alto e bom som contra o Taliban, quem usou regras teocráticas para oprimir as mulheres e todos os opositores.
Ela fala em alto e bom tom contra os senhores da guerra, os quais arruinaram o país uma vez, já na década de 1990 depois do sacrifício dos combatentes da liberdade que lutaram por sua libertação contra os soviéticos, e que estão destruindo de novo o país após tomar o poder em meio ao vácuo político deixado explicitamente pelos EUA.
Ela implora exatamente por aquilo que os EUA afirmam proporcionar ao Afeganistão – direito à representação e à verdadeira democracia, ou regime da maioria. Você poderia pensar que ela fosse anunciada como heroína pela imprensa norte-americana, mas não é assim… Se você buscar nos arquivos da FOX, ABC, CBS, CNN e MSNBC por algo sobre esta mulher, não haverá absolutamente nada, ou apenas uma síntese.
Você vê, nunca ouviu nada sobre Malalaï Joya porque, como a maioria da escória afegã, ela quer que os norte-americanos saiam do Afeganistão! Sem os senhores da guerra, sem Taliban não haverá a estúpida ocupação norte-americana no país deles, com grandes armas e células de torturas. Em outras palavras, Malalaï e o povo afegão só querem paz. Seu país já não sofreu o suficiente? Muito mais fácil é dizer do que fazer, claro, mas a libertação é uma batalha de toda uma vida.
A sra. Joya tem enfrentado muita oposição até agora. Além de ameaçada de estupro e de golpes com garrafas d’água em pleno Parlamento, e de precisar viajar sob guarda armada escondida em uma burca, em maio de 2007, o atual governo expulsou-a de seu cargo após ela comparar o Parlamento a um estábulo de animais. (Mais tarde ela deixou claro que quis dizer “pior que um estábulo de animais, pois os animais domésticos servem para um propósito”). Ela viajou ao exterior procurando apoio à sua causa no mundo ocidental por muitos anos, mas os últimos relatos sobre ela que tenho encontrado são que seu passaporte está separado dela desde o começo deste ano, e que ela estava tentando reinstalar-se no Parlamento antes do ano que perdurará sua suspensão, em 2010. Eu acredito que ela está viva, e deste modo a batalha prossegue.
Joya: “A libertação não é dinheiro a ser doado; ele deve ser executada em um país pelo próprio povo”.
Aqui está o trecho de uma entrevista da principal voz sobre a situação dos EUA no Afeganistão, através de quem provavelmente você nunca ouviu falar nada dela, tampouco para apresentar Joya. Seu nome é Sonali Kolhatkar, hospedeira da rádio Los Angeles e autora de Bleeding Afghanistan: Washington, Warlords and the Propaganda of Silence:
ENTREVISTADOR: “Há uma mulher muito corajosa e franca no Parlamento afegão, chamada Malalaï Joya. Ela tem freqüentemente colocado sua própria vida denunciando os senhores da guerra e clamando por fim da ocupação dos EUA. Ela tem evocado persistentemente aos direitos humanos e à verdadeira democracia. A administração Bush tem feito algo efetivo para promover ou proteger corajosas mulheres que incorporam “valores liberais”, como Malalaï Joya?
KOLHATKAR: “Mulheres como Malalaï Joya são ‘inconvenientes’ para a administração Bush. Isto porque Joya ecoa a vontade de seu povo ao clamar pelo fim dos senhores da guerra, e também da ocupação dos EUA. Bush e seu bando gostam de promover o tipo de mulheres que aceitam caladas a narrativa dos EUA, e demonstram gratidão por elas terem sido”salvas pelos norte-americanos”. De fato, há muito poucas mulheres assim no Afeganistão. Joya fala por milhões de afegãs quando denuncia os senhores da guerra. E ela freqüentemente coloca sua própria vida em risco. Quase foi morta pelo menos quatro vezes! O que significa isso é que os direitos humanos das mulheres estão disponíveis apenas para mulheres que não exercitam este diretito. E não é só Malalaï Joya quem arrisca -se por seu ativismo político. Eu pessoalmente tenho trabalhado muito próxima à Associação Revolucionária das Mulheres do Afeganistão (RAWA, na sigla em inglês), e elas têm dito as mesmas coisas há anos. A RAWA ainda não pode operar abertamente sem correr riscos de danos físicos; por isso, elas devem realizar seu trabalho clandestinamente. A RAWA nunca recebeu nenhuma oferta de ajuda dos EUA (contudo, eles recusam-se a fazer isso se, de alguma maneira, uma organização permanece politicamente independente). Como a Loya Jirga, as mulheres da RAWA são inconvenientes – elas não precisam ser ‘salvas’ pelos EUA. Mas elas realmente precisam de um Afeganistão seguro e merecem a solidariedade internacional por seu corajoso trabalho pelos direitos humanos”.
Abaixo, tomei a liberdade (sem tentar estabelecer trocadilhos) de parafrasear o discurso de Joya no começo da Assembléia Constituicional da Loya Jirga, em 2003:
“Minha crítica a todos os meus colegas é: por que deveríamos nós permitir que a legitimação e legalização desta Assembléia Constitucional torne-se questionável com a presença destes criminosos que levaram nosso país a essa condição, destruído pela guerra?
… Por favor, vejam os comitês o que diz o povo sobre isto. O presidente de cada comitê já é eleito. Por que não se põe todos esses criminosos em um comitê e deixem que digam a nós o que querem para esta nação? Esses são os que levaram nosso país ao núcleo de guerras nacionais e internacionais. Eles eram as pessoas mais contrárias às mulheres na sociedade, que levaram nosso país a este estado e tentam fazer o mesmo novamente. Acredito que seria um erro dar-lhes uma segunda chance. Eles deveriam ser levados ao tribunal nacional e internacional. Se eles estão perdoados pelo nosso povo, pela escória do povo afegão, nossa história nunca os perdoará.
Joya resumidamente discursou spbre o tema dos EUA em uma entrevista, em março de 2007 à PBS’s NOW:
Now: Você acredita que as tropas da OTAN no Afeganistão estão ajudando a melhorar a segurança?
JOYA: Os EUA não estão interessados com a principal causa por trás do terrorismo no Afeganistão. Por isso nosso povo não considera os EUA como sendo os libertadores de nosso país. Eles mesmo têm matado milhares de nossos civis inocentes durante sua chamada “guerra ao terror”, e seguem atacando civis até hoje.
Aparentemente, as tropas dos EUA estão aqui para combater o Taliban, mas por outro lado apóiam totalmente a Aliança do Norte a qual, de acordo com recentes relatos, é a principal vendedora de armas e munições ao Taliban, e tem feito a vida afegã terrível ao povo no norte do Afeganistão.
Acredito que nenhuma nação pode doar libertação a outra nação. Libertação não é dinheiro a ser doado; ela deve ser executada em um país pelo próprio povo. Os desenvolvimentos que seguem no Afeganistão e no Iraque provam este argumento. Só as pessoas de outros países podem ajudar e apoiar-nos.
Infelizmente, outros países envolvidos também agem muito passivemante no Afeganistão. Eles estão seguindo exatamente o caminho do governo dos EUA, e tornando-se instrumento em suas mãos para implementar sua estratégia, interesses regionais.
O povo do Afeganistão hoje suspeita profundamente da “guerra ao terror”.
Now: O que você gostaria que os norte-americanos sobessem sobre seu país?
JOYA: Eu gostaria que eles soubessem que o povo afegão tem sido vítima das políticas equivocadas do governo dos EUA nas últimas três décadas que seguiram ao fim da Guerra Fria. eles deveriam saber que o Afeganistão não está de maneira nenhuma “libertado”, como trombeteia a imprensa ocidental. Deveriam saber que os piores inimigos do povo do Afeganistão, os que trouxeram Osama bin Laden ao Afeganistão e massacraram nosso povo, e cometem crimes inacretitáveis contra as infelizes mulheres, estão agora no poder trazidos de volta pelos EUA. Eles deveriam saber que o povo afegão enfrenta um 11 de setembro todos os dias. Deveriam saber que sob a ocupação dos EUA, o Afeganistão tornou-se o número um na produção de ópio mundial, grande parte dele contrabandeado pelosEUA. Por fim, eu gostaria que eles soubessem que, como todos os seres humanos, o povo afegão ama a democracia, a liberdade e sonha com uma vida próspera. Enquanto odiamos os fomentadores da guerra e as políticas promotoras de crimes do governo dos EUA, sentimos, reconhecemos e agradecemos à solidariedade e o apoio do povo dos EUA, e sabemos de seu humanitarismo e dedicação.”
Não tenho mais nada que acrescentar às palavras dela a meus companheiros norte-americanos. Contudo, eu preferiria muito mais a forma de república em vez da democracia, mas tudo o que o povo de um país escolhe, para mim está muito bem. Infelizmente, muita gente hoje não sabe sequer qual a diferença entre eles.