Jaime van Wagtendonk, Radio Netherland, 30.5.2008
tradução de Edu Montesanti

“Acreditamos que os EUA e seus aliados têm levado-nos da frigideira direto para o fogo”

No Afeganistão, a maioria das pessoas tem opinião sobre Malalaï Joya. Ela tem sido chamada de mulher corajosa e também de prostituta. Tem sido descrita como líder e defensora dos direitos da mulher no Afeganistão, e como comunista prejudicial à democracia. Apesar de todas as controvérsias que rondam esta jovem ativista, sua história pessoal oferece uma prespectiva à frágil democracia no Afeganistão, em crescente despedaçamento devido a divisões regionais, religiosas e de gênero.

Malalaï Joya foi eleita pela primeira vez ao Parlamento afegão em 2005, quando tinha apenas 25 anos. Ano passado, ela foi suspensa por tempo indeterminado do cargo quando comparou a legislatura a um zoológico. Essa não foi a primeira vez que ela se meteu em encrenca por criticar o poder afegão. Iniciando em 2003, emergiu-se como líder política lutando pelos direitos das mulheres e reivindicando a expulsão dos senhores da guerra do governo nacional. Na primeira tempestade que caiu por causa de suas críticas, Joya enfrentou ameaças de estupro feitas inclusive por colegas funcionários eleitos, e sobreviveu a quatro tentativas de assassinato.

Um ano depois de sua controversa suspensão, atualmente protegida por uma grande segurança e ainda perseguida por críticos no Afeganistão, a srta. Joya tem levado sua mensagem de reforma progressiva por todo o mundo. Hoje, ela trabalha para a Organização para a Promoção das Capacidades das Mulheres Afegãs, e fala abertamente sobre a corrupção que vê entre os membros do governo afegão. Em recente visita à Holanda, ela se manteve meticulosamente focada em sua mensagem, discordando e afirmando que a situação das mulheres não tem melhorado grandemente desde a queda do Taliban. Hoje, ela note que:

“Em algumas grandes cidades, as mulheres têm acesso a trabalho e educação. Mas nas províncias mais distantes, a situação das mulheres é pior que nunca”.

Violência

A coalizão liderada pelos Estados Unidos não escapa de suas críticas. Ela afirma que os poderes ocidentais têm “traído” os apoiadores da democracia no Afeganistão, ao permitir que os senhores da guerra da Aliança do Norte retornem ao governo e por legitimar as práticas religiosas islamitas, as quais ela vê como promotoras da violência contra os direitos das mulheres e das crianças.

“Acreditamos que os EUA e seus aliados têm levado-nos da frigideira direto para o fogo”

Por sua crescente fama e atual giro internacional Joya tem se tornado, através de seus apoiadores, um símbolo da precária democracia no Afeganistão. Em Em uma breve reportagem sobre o Parlamento afegão no verão passado, o Parlamento da União Européia afirmou que a suspensão da srta. Joya é parte de um complicado rumo na tarefa do governo do Afeganistão de converter-se em uma “democracia aberta”.

Em sua recente passagem por uma lei de anistia, para impedir que o povo sofra com os crimes de guerra do conflituoso passado afegão, em que foram também impostas restrições à liberdade de imprensa, a suspensão da srta. Joya mostrou a alguns que a democracia no Afeganistão deu passos para trás. Isto não tem detido-a de sua luta por maior proteção aos direitos humanos no Afeganistão.

“Acredito fortemente que eles podem destruir todas as flores, mas não podem deter a primavera. Um dia teremos tudo em nosso país”