Smith-Petersen Khury, Socialist Worker, 24.3.2011
tradução de Edu Montesanti

Khury Petersen-Smith escreve sobre Malalaï Joya, e seu esforço para poder falar

A ativista pelos direitos da Mulher e ex-membro do parlamento do Afeganistão, Malalaï Joya, não tem medo. Ela parou no vazio para levantar sua voz contra os duplos inimigos da liberdade e da igualdade das mulheres em seu país: a misoginia dos senhores da guerra do Afeganistão, e a brutal ocupação dos EUA/OTAN.

Ela foi suspensa do Parlamento afegão depois de usar o cargo para defender os direitos das mulheres. A vida de Joya está ameaçada por causa do seu trabalho, e já sobreviveu a cinco tentativas de assassinato.

Mas agora que Joya está agendada para falar sobre a situação do Afeganistão, e apelar pela retirada das forças dos EUA e da OTAN de seu país em turnê de palestras em todos os EUA, mas só há uma coisa que pode impedi-la. Não são os senhores da guerra afegãos, os talibans nem o governo de Hamid Karzai: é a administração de Obama.

O visto de entrada de Joya aos EUA foi negado em 15 de março, uma semana antes do inpicio de sua turnê. Funcionários da Embaixada dos EUA afirmam que recusaram o visto a Joya, porque ela está “desempregada” e vive “escondida”.

Que qualquer ex-parlamentar seja tratado com desrespeito, é de se admirar. Mas há uma injustiça especial na aplicação de tais rótulos contra Joya. Joya é um renomada autora, cuja editora, Simon and Schuster, está envolvido na turnê como meio de promover seu livro. Em outras palavras, Joya não está desempregada.

Além disso, “o motivo por que Joya vive escondida, é que enfrenta constante ameaça de morte por ter tido a coragem de falar dos direitos das mulheres”, disse Sonali Kolhatkar, da Afghan Women’s Mission (Missão das Mulheres Afegãs), organização sediada nos EUA que recebeu Joya para falar em outras turnês, e é patrocinadora da turnê deste ano. “É imoral que o governo dos EUA neguem sua entrada”.

A negação de visto para a Malalaï Joya, é usada para impedir que suas opiniões sejam ouvidas. Sey caso é o que a American Civil Liberties Union chama de “exclusão ideológica”, a prevenção de que perspectivas críticas ao governo dos EUA alcancem o público local.

A hipocrisia da administração Obama, supostamente liberal, de tomar medidas draconianas impedindo que uma ativista dos direitos das mulheres do Afeganistão expresse opinião sobre a situação das mulheres em seu país hoje, não passa desapercebida para muitos observadores.

“Eu entendo porque os governantes afegãos – tanto os talibans quanto os líderes do governo Karzai – têm medo de Malalaï Joya”, escreveu a blogueira do Boston Globe, Carol Rose, em 20 de marco no editorial. “Ela é uma corajosa defensora dos direitos humanos, e tem sido crítica de ambos os lados, na guerra civil. Ela organizou e dirigiu escolas secreta a fim de educar e capacitar meninas… Mas por que a secretária de Estado Clinton, que se diz defensora dos direitos das mulheres, se recusa a deixar Joya conhecer e conversar com os norteamericanos?”.

Infelizmente, Joya não é a única voz que a administração Obama tenta calar. “Em menos de um ano, vimos cada vez mais o tratamento desumano a Bradley Manning, que Obama considerou “justo”, ressalta Sarah Macareg da editora esquerdista Haymarket Books, uma das patrocinadoras da turnê de Joya.

Macareg refere-se ao soldado do Exército dos EUA, acusado do vazamento de documentos sigilosos à organização popular WikiLeaks.

“O FBI ataca casas e envia intimações para ativistas de solidariedade à Palestina, e três casos de atrasos inexplicáveis de vistos, para os fotojornalistas palestinos, Mohammed Omer e Omar Barghouti, e agora para Malalaï Joya. É difícil não ver tudo isso de forma cumulativa, como uma política de tentar silenciar essas vozes e, assim, alguns das nossas mais importantes formas de solidariedade e de oposição”, disse Macareg.

Em outras palavras, o governo está fechando o cerco sobre quem desafia o que os EUA estão fazendo no exterior – especialmente aqueles com experiência de primeiramão sobre os crimes dos EUA. O silenciamento da dissidência é uma herança dos anos Bush, e em alguns casos está pior.

Como Anthony Arnove, um editor de Haymarket, ressalta, “Joya pôde viajar aos EUA e falou aqui com o presidente Bush, mas agora enfrenta a exclusão ideológica sob a presidência de Obama, que fez campanha por mudança das políticas da era Bush, que antagonizaram o mundo”.

Uma semana depois que o visto a Malalaï Joya foi negado, a revista alemã Der Spiegel publicou condenável e novas perturbadoras provas de crimes de guerra dos EUA no Afeganistão. A revista divulgou fotos de um “esquadrão da morte”, da 5 ª Brigada Stryker, 2 ª Divisão de Infantaria, posando com os corpos de afegãos que haviam matado.

Nas fotos, os soldados se divertem com os assassinatos. Eles enfrentam a corte marcial, não apenas por profanar civis afegãos nas mortes, mas também por simular situações de combate para justificar suas ações. Um soldado da unidade expôs os crimes.

Um porta-voz do Exército qualificou as ações dos soldadosde de “repugnante para nós, enquanto seres humanos, e contrárias às normas e valores do Exército dos Estados Unidos” Mas, longe de ser aberrações, o assassinato de civis e a tortura de pessoas em todo o mundo estão em absoluta consonância com as “normas do Exército dos Estados Unidos”.

As revelações Der Spiegel são aa mais recentes de uma série de revelações dos crimes de guerra ao longo da “Guerra ao Terror”. Estas incluem as fotos públicas do pessoal dos EUA torturando iraquianos na prisão de Abu Ghraib, e as recentes ondas de revelações WikiLeaks.

Essa realidade – cujos crimes contra a humanidade são parte do cotidiano das práticas imperialistas norteamericanas – é exatamente o que o governo dos EUA tem medo que seus cidadãos fiquem sabendo.

Esse é o casoespecial da administração de Obama exatamente agora, que intensifica sua guerra, junto com a OTAN, no Afeganistão, que mantém uma forte presença militar no Iraque apesar de sua retórica de retirada, que bombardeia a Líbia em nome de intervenção humanitária, e concede a ditaduras, apoiadas pelos EUA como Bahrein, luz verde para reprimir manifestantes a fim de esmagar o espírito da revolução que sacode o Oriente Médio e o norte da África. Mas não importa quantos vistos neguem, a administração não pode calar a verdade, nem Malalaï Joya. Joya está falando para o público norteamericano em eventos organizados através de comunicação de vídeo via Internet. Há um público crescente de pessoas que quer ouvir suas idéias e discutir como acabar com as aventuras imperiais dos EUA no exterior, e essas são discussões urgentes que precisamos desenvolver neste país.

ATUALIZAÇÃO: Após uma campanha de protesto, mobilizada nos EUA e no exterior, foi finalmente concedido visto a Malalaï Joya, para viajar aos EUA, após atraso de uma semana. Ela chega hoje ao país.